sexta-feira, setembro 22, 2006

"Porque a gente não aprende... A gente se acostuma..."

"(...) Entristeceu-se ao perceber que meio ano da sua vida podia se resumir a algumas linhas gerais, nada de diferente. (...)
(...)
Apesar das horas acumuladas em seu corpo, sinal que o tempo também deixava marcas, sutis, mas marcas, não só na sua mente, ou talvez sim, só na sua mente, e esta sim, deixava marcas no seu corpo, algumas manias continuavam as mesmas. Ela continuava fechada em seu mundo, mergulhada nas suas idéias, divagando sobre suas ações e seus pensamentos, ignorando sua independência e indiferença em relação às coisas ao seu redor, observando a imensidão de corpos vagando pelas ruas e vivendo suas vidas, e escrevendo, escrevendo... E ela sempre voltava no mesmo ponto, pensando nele e como haviam mantido contato durante um longo tempo, os encontros, as expectativas, tolas, mas expectativas, e o silêncio... Logo após aquele texto absurdo que ela havia escrito para ele, tentando mostrar um pouco do seu mundo. Depois disso não se falaram mais. Fez-se silêncio, profundo, e ela sem saber a razão, respeitou seu direito de calar-se e calou-se também. Não foi fácil para ela no princípio, pensava nele, sentia vontade de escrever, fazer um comentário interessante sobre a nova peça de teatro que assistiu e lembrou dele, as pequenas coisas rotineiras, a saudade de saber que ele estava lá, mas ela nada mais sabia. E a saudade cresceu, cresceu e ficou tão grande, insustentável, pesou sobre ela, tornou-se insuportável, doeu, bem lá no fundo, até ela dar um basta. Decidiu-se por deixar aquela saudade escondida, presa, para não causar mais estragos do que já havia causado e continuava a causar. Demorou alguns meses até ela se acostumar com a ausência das palavras dele, e passou a aceitar que havia acabado. Ou talvez nem tivesse começado. De qualquer forma, acostumou-se. E passou a lembrar dele como apenas mais uma memória, de algo que não fluiu, que foi interessante enquanto existiu, mais alguém que passou pela sua vida, ficou um período, e foi-se, passou. Lembrava dele sem expectativas ou esperanças acerca deles dois, porque era isso que doía nela, e lembrava dele como mais uma tentativa de se inserir no mundo, de confiar nas pessoas, tentativa frustrada.
Seis meses haviam se passado e um olhar rápido veria que nada aconteceu... Mas perdido mais alguns instantes observando esses seis meses, seria possível ver as mudanças pequenas, sutis, mas decisivas, que ocorreram durante tão pouco tempo."
online