segunda-feira, março 05, 2007

03 de março de 2007

Podia ver pela janela do carro em movimento na estrada para casa o eclipse lunar...

"Os pensamentos são coisas interessantes, e muitas vezes podemos encaixar fenômenos completamente independentes da nossa pequena existência na estrutura desses pensamentos, na busca de justificá-los ou floreá-los como bem quisermos, ou como nossa imaginação limitada nos permite."

Enquanto o carro avançava velozmente pelo asfalto parcamente iluminado, pela sua mente uma tristeza invadia cada frase que ia se formando e caía no abismo sináptico dos pensamentos jamais expressos...

"Sentia-se como a noite banhada pela escuridão resultante do eclipse tão esperado por todos, e que em outros tempos também teria esperado, mas que nem sequer havia lembrado. Sua mente era como aquela noite, escurecida pelos acontecimentos prévios, pelos anos passados, pelo dia cheio de expectativas que não foram preenchidas."

A lua se perdia entre um morro e outro, entre as luzes dos postes escassos, mais fortes do que o brilho opaco quase inexistente daquele fenômeno...

"Seus pensamentos também se perdiam entre um morro e outro, e a tristeza era a única coisa constante dentro daquele semi-corpo, daquela semi-existência. Tudo aquilo poderia ser justificado, todos aqueles sentimentos, toda a sua fraqueza, a inutilidade da razão diante das ações instintivas que os sentimentos humanos causam a todos."

Diante de tudo, de si e de seus sonhos aos seus pés, caídos no chão da realidade pungente, nenhuma racionalização fazia sentido, exceto uma, a que sempre era negada e esquecida para manter a ilusória sensação de que tudo poderia ser diferente...

"Sentiu-se como um cometa seguindo a escuridão lunar. À medida que o carro avançava para casa e afastava-se daquele lugar que um dia havia sido seu lar, seu porto seguro, moradia de suas certezas mais efêmeras, sentia que deixava para trás um rastro de poeira como um cometa, que vai perdendo um pouco de si enquanto avança rumo ao seu destino incerto."

Sim, era cometa, sem luz, sem brilho, sem a grandiosidade esperada por leigos e cientistas com seus olhos atentos para a cúpula negra estrelada. Era cometa de pé no chão e cabeça nas estrelas, sempre a sonhar que toda a sua lógica iria por água abaixo quando lhe provassem que a razão era apenas uma ilusão humana...


"Mas já era tarde para acreditar em sonhos pueris, era tarde para acreditar naquelas ilusões. Restava somente aquela certeza mais doída, a de que havia acabado, enfim."

Chegou em casa, mais uma das muitas casas em que já havia estado, mas era a sua casa, naquele instante, naquela fase da sua vida e naquela fase da lua. E a lua já estava cheia no céu, enquanto sua mente se enchia de novas esperanças para uma nova fase da sua vida...

Marcadores:

3 Comments:

Blogger Mocho_ao_Luar said...

Os dias, a vida acaba por ser cheio de expectativas que não foram preenchidas...é o que me farto de dizer às pessoas (acho que ninguém gosta de aceitar muito esta realidade).
Gostei da analogia ao cometa! acho que faz tudo sentido perguntarmo-nos se somos algo em construção ou destruição à medida que o tempo passa.

Sim, tudo pode ser diferente. quando menos esperamos tudo pode mudar (apesar de não ter muitas esperanças, sei que é possível...nem que seja por breves momentos).

A nossa casa, o nosso refúgio...

Gostei do texto. Se escrevesse tão bem como tu, poderia ter sido escrito por mim!

bjinhos

12:58 PM  
Blogger sem-comentarios said...

Há dias que só queremos chegar a casa,sem reparar no que a natureza nos oferece...nesse caso, o eclipse lunar.
Os pensamentos invado-nos e priva-nos de muitas coisas.

O mocho diz e muito bem, Ma tu escreves muito bem :)

Dp tenta ouvir o portugues açoreano para rires um pouco :)

bjs miga**

5:29 PM  
Blogger ma said...

mocho, tb me farto de dizer q criamos mtas expectativas q não são preenchidas... engraçado como a analogia do cometa surgiu, às vezes me perco no meio de desses devaneios... e realmente td pode mudar, mas a piada está justamente no fato q nunca muda do jeito q queremos (ainda bem, talvez!).
fico feliz q tenha gostado do texto, levei 2 dias p/ encontrar tempo e sossego p/ escrevê-lo (e ainda não lido bem qdo isso acontece pq sei q se perde mto da idéia original, embora surgem idéias novas p/ complementar). qto a escrever bem tenho minhas dúvidas, e elas provavelmente continuarão (perfeccionismo é uma falha recorrente minha).
bjos pra ti!

sem, vira e mexe passo tempos a voltar p/ casa sem reparar nas coisas ao meu redor, seguindo automaticamente, mas nunca me agradou mto essa idéia... concordo q os pensamentos nos privam de mtas coisas, mas esse é um dos meus velhos hábitos do qual não consigo largar, e admito q gosto dele a maior parte do tempo (mas é um equilíbrio a ser ponderado constantemente).
não consegui escutar a música no seu blog hj (o pc do trabalho não anda lá mto bem) :(
mas ando a precisar rir um pouco essa semana, as pessoas andam a testar a minha paciência e bom humor esses dias...
bjinhos pra ti!

9:31 AM  

Postar um comentário

<< Home

online