quarta-feira, dezembro 20, 2006

Do que fica e do que está por vir...

A vida que fica - uma mensagem de final de ano

Não se engane, meu amor, não se engane. A vida não passa. A vida fica, cada vez mais. Sabe aquele sorriso de ontem, o menino chorando agarrado ao pai, a bomba de creme da padaria, a vez que mandaste o chefe à merda, o gemido de prazer, o gol perfeito, o sol sobre o mar e o vento com maresia, o anel perdido, a tarde de férias, o amigo morto, o cheiro do cabelo da primeira namorada, a irritação com o taxista, a cerveja gelada entre os amigos que não mais se encontraram, o dia do casamento, a palavra mais dura de todas, o porre de Ano Novo, o cigarro na janela sobre os telhados, o abraço no saguão do aeroporto, o bolo de Fubá da avó, o livro roubado da biblioteca, a gripe mal curada, a manhã de domingo, o café com pão quentinho, o assalto à mão armada, a nuvem em formato de cachorro, aquele poema inacabado, a covardia de não ter tentado? Fica. Tudo isso e todo o resto fica. Fica nos olhos, nas mãos, nas rugas nos cantos da boca, nos cabelos que aos poucos ganham as cores do tempo e dos invernos, nas pernas mais fracas, mais bambas, mais trôpegas e cada vez mais cansadas de levantar depois de cada tombo. A vida fica cada vez mais nos pulmões e no peito, com rastros de gritos e gargalhadas, soluços, rancores, tristezas, nas costas fica a vida como cicatriz das asas arrancadas, dos punhais, no encurvar dos ombros que suportam a carga dos anos e das culpas, fica a vida, cada vez mais a vida, que nunca passa. Fica nos planos dentro da gaveta, trancados e cheirando a mofo, fica na boca com gosto de comida e riso, de beijos, das palavras que não queríamos ter dito, das palavras que não deveríamos ter deixado de dizer. Não se engane, meu amor, não se engane. A vida não passa, não. A vida fica, cada vez mais, sempre e sempre mais. Fica encrustrada na pele que ganha marcas, que perde a cor, que fica opaca. Fica nas artérias, nos lábios que enrugam dos carinhos e dos assovios, das músicas e orações desaprendidas, nos ouvidos que vão ensurdecendo de desouvir. Fica nos pés tortos e calejados do andar incessante do mundo, no ventre que vai secando de desistências e recomeços, nos olhares cegos de desatenção e desmemória, nos braços enfraquecidos pela solidão construída palmo a palmo ao nosso redor, nas frustrações e nas canalhices, nas pequenas maldades debaixo das unhas, nas desconfianças mesquinhas atrás das orelhas, no amargo da língua cheia de ressentimentos. A vida não passa, meu amor, não se engane. A vida não passa, não. Nada disso vai passar. O tempo minora e ajeita, recobre a pele arrancada, mata o viço do brilho de outrora, mas a vida fica, sempre e cada vez mais, e se acumula e nos torna exatamente aquilo que fizemos e faremos dela. Exatamente. Portanto, meu amor, tenhamos coragem. Façamos com a vida o que queremos que ela faça de nós.

Desejo um 2007 do jeito que a gente quiser.

Ticcia


Mais uma vez ela vem me deixar de boca aberta, de coração na mão e com os olhos cheios d'água, sentindo-me exposta e desnudada diante de todos...
E desejando mais avidamente do que nunca um novo texto, um novo ano, um novo recomeçar...
Porque poucas pessoas tem a capacidade e o dom de nos deixar assim, e ela o tem maravilhosamente...

3 Comments:

Blogger Apple said...

Pois tb a mim me deixou sem palavras, sem comentário possivel, perante palavras tão lindas e tão plenas de grandiosidade...

Querida Ma, aqui te deixo um grande beijinho de Feliz Natal (ainda cá volto antes do próximo ano ;-)

7:57 AM  
Blogger Mocho_ao_Luar said...

Muito lindo mesmo!!! sem palavras...

Ficam aqui os desejos de um excelente Natal: Na companhia daqueles que amas e que te amam!:)

bjinhos!

10:08 AM  
Blogger ma said...

apple e mocho, um feliz natal para vcs tb c/ direito a todos os clichês aos quais estamos acostumados mas q adoramos!!!!

bjos pra vcs!!!
:D

8:26 PM  

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