segunda-feira, outubro 23, 2006

  • Achava que não podia ser magoada
  • Achava que não podia ser magoada;
    achava que com certeza era
    imune ao sofrimento —
    imune às dores do espírito
    ou à agonia.

    Meu mundo tinha o calor do sol de abril
    Meus pensamentos, salpicados de verde e ouro.
    Minha alma em êxtase, ainda assim
    conheceu a dor suave e aguda que só o prazer
    pode conter.

    Minha alma planava sobre as gaivotas
    que, ofegantes, tão alto se lançando,
    lá no topo pareciam roçar suas asas
    farfalhantes no teto azul
    do céu.

    (Como é frágil o coração humano —
    um latejar, um frêmito —
    um frágil, luzente instrumento
    de cristal que chora
    ou canta.)

    Então de súbito meu mundo escureceu
    E as trevas encobriram minha alegria.
    Restou uma ausência triste e doída
    Onde mãos sem cuidado tocaram
    e destruíram

    minha teia prateada de felicidade.
    As mãos estacaram, atônitas.
    Mãos que me amavam, choraram ao ver
    os destroços do meu firma-
    mento.

    (Como é frágil o coração humano —
    espelhado poço de pensamentos.
    Tão profundo e trêmulo instrumento
    de vidro, que canta
    ou chora.)


    (tradução de Mônica Magnani Monte)


    Sylvia Plath

    4 Comments:

    Blogger Apple said...

    Tão efémera a felicidade...
    Bjs

    5:59 AM  
    Blogger Mocho_ao_Luar said...

    Acho que traduz muito bem, o que muitos de nós sentem ou sentiram.
    Pensamos que existem momentos que vão durar para sempre, mas acaba por doer mais quando tal não acontece.
    Mas existem mesmo coisas que não controlamos, e isso é quando nos apaixonamos ou quando a relação se desvanece sem estarmos preparados.
    bjinhos***

    6:47 AM  
    Anonymous Anônimo said...

    Um poema que decifra bem como o coração é frágil.
    Há minima coisa...ele quebra-se.

    Muito bonito :)

    Bj**

    4:07 PM  
    Blogger ma said...

    apple, efêmera sim, mas eterna na memória...

    mocho, como dizia o poeta não há mal q sempre dure nem a bem q não se acabe...

    sem-comentarios, descobri a escrita de sylvia plath anos atrás, mas redescobri nesses últimos meses e é como se ela soubesse exatamente o q eu sinto... não dá pra negar o quê de genialidade q emana das suas palavras...

    bjos pra todos vcs!!!
    :)

    9:16 PM  

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