Da imensidão... II
"Tocava o até então intocável, desconhecido, ou não reconhecido, o que não tinha forma, nem sequer nome para ser chamado, o que até então não era, por não ser visto, ouvido, tocado, sentido. Agora o sabia, sua existência, mesmo que fora dos padrões da realidade e do imaginável. Mas não tocava com essas mãos pequenas, materiais, limitadas, tocava, ou melhor, tocavam-se, fundiam-se, sua alma e... Momento convergente, tudo o que compunha existência tacanha, imperfeita encontrando a imensidão de... Sensação de plenitude atrelada ao passar do tempo que proporciona a maturidade precisa para sentir, compreender e não se deixar mais levar pelo encantamento das primeiras percepções. Percebe-se, e com a serenidade adquirida com a maturidade, absorve-se todo o possível, tudo que possa ser contido por matéria tão imediatista, sujeita a distorções constantes, capacidade mínima de compreensão. Lá ia ela, distante dos olhos do mundo, sumindo em meio ao mar etéreo que aos poucos se desfazia com os raios de sol que penetravam insistentemente por entre as sensações de eterna duração, encobrindo qualquer facho de luminosidade que tentasse escapar por entre os poros de parede antes impenetrável. Agora era possível ver seu corpo indo em direção desconhecida, personificação da efemeridade humana, enquanto sua alma desfazia-se com a névoa, para talvez assumir novamente forma, condensação de pensamentos e sentimentos livres por momentos como aqueles, impossibilidade de prever o novo rearranjo, como sua alma se encontraria depois de brevemente longa ausência. Ao abrir a porta de sua casa, ao voltar para a realidade indiferente do mundo, seu corpo já havia reencontrado sua alma, e ela, tal fonte tímida, havia tornado-se rio caudaloso, e após retenção natural, encontrava seu caminho por entre pedras e seguia seu destino rumo ao mar. Expandia-se novamente, apesar de toda ação contrária, apesar de todas as marcas deixadas por tamanha ousadia, vida inerente à morte, expansão inerente ao espaço limitado, alma inerente ao corpo, ela inerente a si... Era névoa novamente..."
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