sexta-feira, setembro 29, 2006

Dele...

"(...)Deixou-se mergulhar naquela sensação de euforia típica dos primeiros encontros e primeiros meses. Sabia que com o tempo isso passaria, mas ficaria então outros sentimentos, adquiridos com o tempo e com a convivência. E ele também ansiava por todos esses sentimentos. Porque era uma certeza que ela não lhe dava, e ele precisava dessa certeza. Procurava então em outras mulheres e achava que talvez conseguisse com esta, porque com ela parecia impossível. E ele não gostava de sentir essa incerteza que ela passava. Não gostava de não saber o que ela queria dizer com aquelas frases truncadas, como se existisse todo um mundo nas suas entrelinhas, o que ela sentia, o que ela realmente pensava. Tudo vindo dela parecia pela metade. Quando a forçava um pouco mais, para ver se conseguia fazer ela falar um pouco mais, percebia que ela fugia, escorria das suas mãos como areia fina. Poucas vezes ela assumia algo em relação a eles dois, e quando o fazia, deixava bem claro de que vontades e desejos são inconstantes visto que são regidos pelos homens, e dessa forma nada podiam fazer senão esperar. Para saber se a vontade continuava e não se prender a expectativas tolas. Ele queria certezas, sonhos palpáveis, comprometimento, entrega, compartilhar. Ela lhe dava tudo aquilo, mas não por inteiro. Era como se ela temesse que ele não pudesse suportar, e lhe desse um pouco de si aos poucos. Às vezes pensava que talvez ela temia que ela não pudesse suportar se dar por inteiro para alguém. Mas não podia afirmar nada em relação a ela. Achava até engraçado como ela conseguia fazer isso: entregava seu corpo sem pudor, com a naturalidade e o prazer de uma criança que aproveita cada segundo, cada momento como se não houvesse passado e futuro, um mundo inteiro ao redor, uma vida que segue independente deles. Sentia que podia possuir seu corpo, mesmo que por breves momentos, mas sentia que sua alma jamais poderia pertencer a alguém, era pássaro livre, daqueles que você admira, deseja ter por perto, mas tinha a certeza de que era um sonho distante, intocável...
Adormeceu, cansado de tentar compreender o que estava longe de qualquer entendimento. (...)"
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