quarta-feira, outubro 11, 2006

Das lembranças...

"Ao final do mês ela já havia ido embora, e tudo o que restou da sua presença foi seu cheiro impregnado na sua pele, fazendo companhia aos objetos esquecidos durante a pressa da partida: algumas fotos, perdidas nas gavetas, uma ou outra lembrança de viagens feitas juntos, e a memória persistente, trazendo à tona o tempo compartilhado.
(...) com o desgaste que consumia a convivência deles, ela sentia a vontade cada vez mais incontrolável de partir. E partiu. Deixando para trás toda a inércia que regia aquela relação e a vida de ambos. Deixando ele, perdido em si e incapaz de assumir suas prioridades e vontades. Deixando também, e era o que mais doía nela, um pedaço de si, arrancado das suas entranhas por ele, com seu olhar, seus beijos, seu toque e suas promessas vãs.
Tinha imensa facilidade de recomeçar novas amizades, novo emprego, nova cidade, novas expectativas para pensamentos velhos. Não sofreu com tais mudanças, mas sofreu calada a ausência. A ausência dele, dormindo ao seu lado, do seu cheiro, das conversas despretensiosas, do choro contido diante do abismo em que se viam cair, do choro incontido e velado que a distância crescente entre eles lhe causava, mas que ao final de mais um dia ouvia a porta se abrir e ele voltar. Sofreu calada a certeza de que não teria essa vida novamente. Um misto de alívio e tristeza, o fardo tirado de suas costas que levava junto os momentos mais pequenos e duradouros. O olhar terno, o carinho inesperado, o sorriso mudo, o beijo roubado. Tudo aquilo que não voltaria mais, todos os instantes perdidos na imensidão da memória."

4 Comments:

Blogger Apple said...

Gosto tanto de te ler mas, por vezes, a tua escrita dói-me...
Voamos no mesmo "bando".
Bjs

7:46 AM  
Blogger ma said...

Apple,
não sei o q dizer sobre a dor q te causa a minha escrita, mas acho q ao escrevermos, nossas palavras assumem o peso da nossa existência ou de uma fase de nossas vidas, e talvez por isso causem tantas sensações a quem as lê, sejam de tristeza ou de alegria...
É bom saber q voamos no msm bando... Durante muito tempo senti q voava sozinha...
Bjos
:)

3:11 PM  
Blogger Mocho_ao_Luar said...

às vezes temos que nos resignar de que certas relações simplesmente não estavam previstas o destino perdura-las.
Ás vezes queremos tanto acreditar que essa pessoa encontra-se ao nosso lado, que quase se torna realidade...mas é tudo ilusão.
É mesmo seguir em frente com o nosso sofrimento silencioso até que...até que...

12:42 PM  
Blogger ma said...

Mocho,
não poderia concordar mais contigo... sem comentários...
:)

1:57 PM  

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