sexta-feira, outubro 06, 2006

Luz e sombra...

"Formas nuas bailavam em toda a extensão da sala e de seu quarto, criando sombras tênues, trêmulas, mas persistentes, dançando ao ritmo das estrelas que forravam o teto azul-lilás-aveludado do mundo. Dançavam e criavam uma atmosfera misteriosa, movimentos delicados, como bailarinos em noite de estréia, de perto é possível sentir a tensão criada entre corpo e o ar, com o tremor dos músculos tensionados devido à emoção de momento tão esperado, previsto, revisto, de longe os movimentos perfeitos, leves, corpos flutuantes, levitando, complementação entre música e dança, continuidade entre bailarinos e melodia, entre o que é ouvido e o que é visto, quase impossível diferenciar de onde surge a sinfonia e de onde surge a dinâmica da matéria.
Ela penetrava naquela cena surreal, ela, imagem estática em meio as formas em constante movimento, e como em uma pintura, olha-se novamente, vê-se ela, alma, dançando em meio as figuras agora secundárias, ela, regendo a sinfonia maior, seus passos sendo seguidos pelas outras imagens, agora opacas, e ela, luz própria, surgindo dela e iluminando todo o ambiente. Toda a cena, a imagem, a pintura, criada para colocá-la em foco, ponto convergente, eixo, estrelas girando ao seu redor, centro cuja gravidade atrai a matéria próxima.
(...)
As sombras e a luminosidade indireta criada com o balé surrealista avançaram a noite toda, embriagaram-se com a beleza da negritude celeste e da alvura da lua nova que iluminava a escuridão do céu com seu brilho pálido, e recusaram-se a adormecer diante da possibilidade de tal encontro. O sono chegou somente com o amanhecer do dia, as estrelas se escondendo diante de fonte mais luminosa, o céu tornando-se mais claro e dando o ritmo da vida que voltava ao movimento habitual. Dormiu na sua cama ainda com as almofadas dando um ar de polidez ilusório, e em toda a extensão da sala e de seu quarto, extinguiam-se as últimas luzes das velas que iluminaram mais uma de suas noites solitárias, apagaram-se logo após o seu desfalecimento, como se tivessem percebido a ausência do seu centro de gravidade, e o balé tivesse se tornado apresentação desnecessária, sem sua melodia regente..."

4 Comments:

Blogger Apple said...

Falta um bailarino nessa história...(não sei se foi assim que o sentiste ao escrever, mas foi como eu o li.Bjs)

6:23 AM  
Blogger Uilians Uilson said...

Valeu! Má... acho que a falta de um balirino é uma visão bastante pessoal. Da forma que foi escrita está perfeita.

3:22 PM  
Anonymous Anônimo said...

Muitas vezes também me sinto apático, um mero "espectador" no meio de figuras que dançam à minha volta!
Grande texto!;)

4:32 PM  
Blogger ma said...

apple,
confesso q não me ocorreu um bailarino quando escrevi, mas quem faz a história não é só quem escreve, mas quem lê, e talvez o prazer todo da escrita esteja justamente na sua releitura... obrigada pela dica, sempre me ajuda a manter a mente aberta...

uilians,
acho q vale o mesmo, cada um interpreta do seu jeito, e a beleza está toda aí!

mocho,
essa sensação de observador é sempre contraditória, mas acontece muitas vezes tb comigo... às vezes bate aquela necessidade de tornar-se mais uma figura dançando, ao invés de analisar apenas...

10:37 PM  

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