Podia ver pela janela do carro em movimento na estrada para casa o eclipse lunar...
"Os pensamentos são coisas interessantes, e muitas vezes podemos encaixar fenômenos completamente independentes da nossa pequena existência na estrutura desses pensamentos, na busca de justificá-los ou floreá-los como bem quisermos, ou como nossa imaginação limitada nos permite."
Enquanto o carro avançava velozmente pelo asfalto parcamente iluminado, pela sua mente uma tristeza invadia cada frase que ia se formando e caía no abismo sináptico dos pensamentos jamais expressos...
"Sentia-se como a noite banhada pela escuridão resultante do eclipse tão esperado por todos, e que em outros tempos também teria esperado, mas que nem sequer havia lembrado. Sua mente era como aquela noite, escurecida pelos acontecimentos prévios, pelos anos passados, pelo dia cheio de expectativas que não foram preenchidas."
A lua se perdia entre um morro e outro, entre as luzes dos postes escassos, mais fortes do que o brilho opaco quase inexistente daquele fenômeno...
"Seus pensamentos também se perdiam entre um morro e outro, e a tristeza era a única coisa constante dentro daquele semi-corpo, daquela semi-existência. Tudo aquilo poderia ser justificado, todos aqueles sentimentos, toda a sua fraqueza, a inutilidade da razão diante das ações instintivas que os sentimentos humanos causam a todos."
Diante de tudo, de si e de seus sonhos aos seus pés, caídos no chão da realidade pungente, nenhuma racionalização fazia sentido, exceto uma, a que sempre era negada e esquecida para manter a ilusória sensação de que tudo poderia ser diferente...
"Sentiu-se como um cometa seguindo a escuridão lunar. À medida que o carro avançava para casa e afastava-se daquele lugar que um dia havia sido seu lar, seu porto seguro, moradia de suas certezas mais efêmeras, sentia que deixava para trás um rastro de poeira como um cometa, que vai perdendo um pouco de si enquanto avança rumo ao seu destino incerto."
Sim, era cometa, sem luz, sem brilho, sem a grandiosidade esperada por leigos e cientistas com seus olhos atentos para a cúpula negra estrelada. Era cometa de pé no chão e cabeça nas estrelas, sempre a sonhar que toda a sua lógica iria por água abaixo quando lhe provassem que a razão era apenas uma ilusão humana...
"Mas já era tarde para acreditar em sonhos pueris, era tarde para acreditar naquelas ilusões. Restava somente aquela certeza mais doída, a de que havia acabado, enfim."
Chegou em casa, mais uma das muitas casas em que já havia estado, mas era a sua casa, naquele instante, naquela fase da sua vida e naquela fase da lua. E a lua já estava cheia no céu, enquanto sua mente se enchia de novas esperanças para uma nova fase da sua vida...
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