sábado, setembro 30, 2006
sexta-feira, setembro 29, 2006
Dele...
Adormeceu, cansado de tentar compreender o que estava longe de qualquer entendimento. (...)"
quinta-feira, setembro 28, 2006
Do ingovernável...
Da imensidão... II
quarta-feira, setembro 27, 2006
Da imensidão...
Como se estivesse enfeitiçada pela beleza póstuma, reflexo de si, segue os passos inexistentes da neblina, chega à rua, agora se encontra completamente mergulhada, completamente embebida, de névoa, pequenas gotículas de lágrimas, lágrimas choradas internamente, em si. Passou a manhã caminhando pelas ruas, tentando absorver tudo ao seu redor, pedaços de si, perdidos naquele ambiente, levados pela brisa fraca que nem sequer soprava, levava vagarosamente partículas invisíveis de sensações insensíveis. Tentava se encontrar, se reencontrar mais uma vez, havia perdido o rumo em meio à tormenta em que havia se jogado, lançou-se em meio ao turbilhão de desencontros da vida comum, perdeu-se em meio à tempestade entre céu e mar, entre o mundo e ela. Agora andava calmamente por ruas sem nomes, sem formas, buscando algo imaterial em meio a tanta materialidade. Deixava seu corpo percorrer o caminho que conviesse, atraído pela névoa que estranhamente não se desfazia com o passar da hora. Percorria então, lugares conhecidos parcamente, avidamente percebidos devido à atmosfera perceptiva, casas antigas, muros altos, isolamento espacial, individualidade extrema, lares fechados para a neblina vívida que ousava, sem pressa, penetrar pelos pequeninos espaços dos portões, pelas frestas nas janelas, chegando finalmente aos olhares aturdidos dos que fogem de fenômeno único, névoa viva, desejando encobrir tudo, e em um instante surreal, névoa assumindo forma, tocar cada um desses objetos subjetivos e fazer correr a vida em suas veias, penetrando por sua pele, invadindo cada célula, explosão de movimentos sincronizados, sinfonia perfeita, expansão da alma, liberta, enfim..."
terça-feira, setembro 26, 2006
Do inevitável...
Não mais do que de repente, como se o tempo estivesse suspenso pelas tênues linhas que formam os universos paralelos que coexistem e se cruzam na impossibilidade de nossa imaginação, ela se viu ajoelhada diante de si e uma lágrima solitária, pedra preciosa de compreensão de si mesma, escorreu por ambas as faces e parou por um segundo no ar, flutuando na ausência da gravidade, das leis que regem o mundo físico, antes de repousar em suas mãos trêmulas. Trêmulas porque nesse instante único, ela criança, sentada em uma cama qualquer, em um universo qualquer, olhava para ela adulta, ajoelhada aos seus pés. Trêmulas porque nesse momento único ela havia compreendido. Compreendido que havia chegado a hora, que ela sentia próxima. Compreendido que ela estava crescendo. E esse era um movimento que ninguém, nem mesmo ela podia parar. Abriu as janelas do seu quarto e da sua alma e deixou, ao contrário de tudo e de todos, a vida sair. Sair de dentro dela e ocupar seu espaço real, expandir e se entranhar em cada ausência, preenchendo o mundo vazio, até agora. Porque agora o mundo podia senti-la, assim como ela podia sentir o mundo."
segunda-feira, setembro 25, 2006
Das impressões...
domingo, setembro 24, 2006
Da saudade...
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade de um filho que estuda fora. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas.
Texto publicado no Jornal "O Globo"
Da natureza das coisas...
"O sol lá fora se encontra encoberto pelas nuvens levemente pesadas que navegam seguindo uma rota imaginária... Mas sua luz atravessa esse manto quase inexistente e chega aos meus olhos e ao mundo ainda capaz de nos cegar. Ou será que já não nos encontramos cegos? Cegos pela escuridão luminosa presente em nós, a escuridão do nosso egoísmo, do nosso egocentrismo, da nossa corrupção, da nossa solidão, a nossa escuridão paradoxal, capaz de nos elevar até que esta se consuma e imploda em uma fonte luminosa... Por um breve instante é possível perceber que talvez nós sejamos o que tanto tememos: anjos caídos do paraíso, lidando com o pior que existe em nós e tentando aceitar e enxergar toda a potencialidade presente na pureza perdida em meio a podridão pertencente a nós..."
sábado, setembro 23, 2006
"Porque a gente não aprende... A gente se acostuma..." II
Ele sentia falta da subjetividade presente nos detalhes relativos a ela. Mas era saudade que dava e ia embora rápido, porque ele não alimentava. Mas era saudade doída, de possibilidades, do que poderia ter sido se... Mas calou-se. Manteve silêncio porque não sabia o que dizer, porque queria lhe dar espaço, porque queria lhe dar o direito de ir mais a fundo, falando o que quisesse, ou deixar como estava. Só que ocorreu o que ele não podia supor: ela calou-se e permaneceu calada. Na verdade, ele deveria supor porque vindo dela, silêncio nunca era demais. Mas não sabia o porquê de tal silêncio, então não ousou dar outro passo. E foi quando ele viu que ela foi se afastando, cada vez mais, até não mais se falarem, até ele não saber mais nada acerca dela. Silêncio completo. Fez falta, as palavras escassas, os comentários, os encontros mais escassos, o olhar, que ficava marcado na memória, na pele... Mas passou, ele esqueceu aos poucos, ela havia se transformado em uma lembrança, intocável... Ele aprendeu assim, como a esquecer dela, esquecer daquelas sensações que o convívio com ela traziam. Mas aprendeu também a calar-se e observar apenas, quando todos falavam. Foi-se seis meses e às vezes algo pequeno, um gesto, uma palavra, uma imagem o faziam lembrar dela, mas isso também era raro, e na maior parte do tempo, passado e presente, ela permaneceu lembrança escondida na gaveta mais funda, para não doer demais..."
sexta-feira, setembro 22, 2006
"Porque a gente não aprende... A gente se acostuma..."
Seis meses haviam se passado e um olhar rápido veria que nada aconteceu... Mas perdido mais alguns instantes observando esses seis meses, seria possível ver as mudanças pequenas, sutis, mas decisivas, que ocorreram durante tão pouco tempo."
quinta-feira, setembro 21, 2006
9 de janeiro de 2002...
"Há dias e dias. Dias em que você sente aquela alegria sem razão nenhuma. E dias em que você sente aquele aperto no peito como se não coubesse tanta coisa em um pedaço de carne e um projeto de vida.
Anda difícil escrever como antes. As palavras corriam de meu cérebro para minhas mãos em um instante e meus pensamentos atropelavam minha desajeitada escrita, jorrando versos e ideais de uma alma em expansão. Aonde anda essa alma agora? Não há mais um novo mundo mostrando sua inocência e contradições, sonhos e possibilidades. Hoje existe a realidade, esperando que eu dê meu passo e admire estupefata suas conseqüências. Hoje há uma alma que procura seu lugar no mundo, uma alma que não quer deixar sua cadeira vazia, que deseja ser lembrada com saudades nos corações de quem a conheceu. Há hoje o elo perdido do espírito do mundo. Fecharam as portas dos jardins do paraíso e abriram caminho para um individualismo egoísta. E quem irá se arriscar a percorrer os tortuosos caminhos da verdadeira felicidade, da paz, do amor, da humildade? Quem se dispõe a ser apedrejado, crucificado, esquecido? Quem ama suficientemente esse mundo distorcido, deturpado? Quem ainda consegue ver o amor, a esperança nos corações de poucos que ainda se lembram do paraíso perdido? Quem tem forças para se levantar e fazer o que poucos ousaram fazer em nome de algo maior, em nome da felicidade do todo? Todos nós."
quarta-feira, setembro 20, 2006
...
No descompasso disforme da existência moldada em padrões pré-estabelecidos perde-se o equilíbrio e o senso de estabilidade ao presenciar o inverso de tudo o que se tenta compreender. São mais do que imagens invertidas, mais do que corpos e percepções viradas do avesso. É a consciência distorcida voltando ao estado inicial, livre de qualquer interferência externa. É o reflexo de si, diante de todos, exposto aos olhares alheios, descoberta tardia, atordoante.
É a calmaria em meio a turbulência dos pensamentos, que ao rodopiarem em torno de si mesmos, encontram o fluxo constante que permite o nexo da dinâmica outrora extenuante. E quando parece formar a sentença final, perfeita e completa, desconstrói-se...
terça-feira, setembro 19, 2006
Leve impressão de Clarice...
Levantou-se e foi de encontro ao mar. Vagarosamente... Como menina tímida e orgulhosa que não consegue admitir que sentiu saudades do namorado, como se ela não tivesse desejado aquele momento, sonhado dia após dia, noite após noite. Vai se aproximando devagar, demonstrando naturalidade incomum diante da presença tão esperada. Chega então... Aquele primeiro instante: o abraço do reencontro, a saudade parece que não cabe em um coração tão pequeno, não consegue olhar nos olhos, assim, tão pertinho, então abraça, sente o cheiro do corpo que tanto fez falta, tanto fez suspirar, fecha os olhos, espera que esse momento perdure a eternidade do seu ser, deseja tanto isso que precisa abrir os olhos, ver se é real, abaixa o olhar, olha para o nada, olha para dentro, menina feliz, felicidade sem fim, até o fim... Era assim que ela se sentia toda vez que seus pés chegavam assim tão perto, e recebiam as primeiras ondas do mar, quebrando... Peito parecia explodir, coração crescia tanto que não cabia nele. Sabia a cerimônia toda: a espera, a aproximação, o temor, o verdadeiro encontro, explosão de alegria e dor... Seus pés, banhados pelas ondas, mergulhados naquela mistura de areia e mar, alma banhada em lágrimas, mergulhada naquela mistura de alegria e dor... Queria ir mais longe, deixar todo seu corpo submerso naquele líquido salgado e brilhante, estaria falando do mar diante de si ou do mar dentro de si? Falava dos dois, que talvez pudessem ser um só, ligados por ela... Talvez isso explicasse tantas sensações diante de algo tão banal aos olhos de fora...
A vontade de escrever foi surgindo, as palavras acordaram com o sol brilhando na água como pequenas pedrinhas brilhantes e leves, leves dançavam ao sabor do vento e o movimento da água... Acordaram com o som das ondas quebrando na beira da praia, criança que não sabe se vai ou se vem, chega perto, sorri, faz um carinho, volta... Acordaram com os pés mergulhados na imensidão verde-azul sem fim, sem fim porque ia até onde os olhos não viam e quando parecia acabar aos olhos do mundo continuava nela... Voltou, sentou, escreveu... Como se seu corpo inteiro estivesse mergulhando naquele mar todo, como se ela estivesse mergulhando em si, no mar da alma... Pois aquele reencontro havia sido o prenúncio do que estava por vir. Escreveu como nunca havia escrito antes, estava conhecendo uma parte dela que até agora se mostrara muito pouco. Sentiu-se criança novamente: pela primeira vez conseguira registrar um momento, e ele estava dispersando no ar quando ela, no primeiro salto da sua vida, pegou com suas próprias mãos um pequeno pedaço de si, um pequeno pedaço do mundo... Era apenas o começo, ela pensou, mas era uma impressão única, marcada na sua alma por toda a sua existência... E agora, no papel, diante dela, ela podia se sentir mais real..."
segunda-feira, setembro 18, 2006
Um mês antes da partida... Em cinco tempos...
De repente as mãos que percorriam o contorno da face das suas querências, não mais encontraram seu repouso e viram-se perdidas entre a frieza de sua possuidora e a ausência do seu toque. Não restando nada mais além de suas preces em vão, tornaram-se insensíveis às palavras que partiam de si.
De repente as palavras perderam todo seu peso, toda a verdade contida em seus meandros, equivalendo ao vazio de quem as pronunciavam. Ficaram submersas na placidez da mediocridade e da ignorância, esquecidas como uma lembrança triste e indesejada. Adormecidas esperam que sejam suspensas pelo movimento natural dos pensamentos.
De repente diante do reflexo opaco de um corpo entregue aos anos que não passaram, caiu o véu da sua noite, e o brilho da maturidade foi absorvido pelo olhar atento aos movimentos externos. Aguarda-se o momento em que o equilíbrio seja refeito e luz e escuridão se fundam em um novo universo de momentos.